É exatamente isso que você leu!! Como psicóloga eu já perdi a conta de quantas vítimas atendo diariamente ao longo desses anos, e que, muitas vezes, nem se dão conta…. Não se dão conta, pois, além da vítima estar emocionalmente envolvida, o que pode dificultar que ela tenha clareza da situação (quem nunca se apaixonou pela pessoa errada e depois pensou: como gostei dele (a)?), o agressor também, não necessariamente a agride fisicamente. O preconceito que existe em relação a mulheres que se mantém em relacionamento com seus agressores é uma mola propulsora que aumenta muito o seu poder sobre a vítima, uma vez que a mesma, já estando com sua autoestima estilhaçada devido ao jogo psicológico que o ele a submete, encontra julgamento em amigos e na sociedade, se sentindo sozinha e acreditando nas palavras muitas vezes proferidas por ele: “você só tem a mim”, “você só pode contar comigo”, “ninguém nunca vai te querer, só eu te aguento”, e por aí vai. Preste atenção: uma das grandes técnicas usadas pelo agressor é afastar a vítima da sua rede de apoio (família, amigos e etc.). O preconceito e julgamento dos mesmos fazem que esse trabalho nem precise ser feito por ele. A vítima sofre sozinha e sem apoio. Ele fortalece seu poder sobre ela.
Não existe “mulher de malandro”, não tem “mulher que gosta de apanhar”. Algumas mulheres ainda comentam que “se fosse comigo seria diferente” “eu nunca aceitaria isso”. Na verdade, não temos como saber se aceitaria ou não. Preciso te dizer que mulheres que estão nessa situação não são fracas, não gostam de apanhar. O agressor desempenha um papel cruel de “morde e assopra”, de culpabilizar a vítima, de ser maravilhoso e o melhor homem do mundo em um segundo, para que, no segundo seguinte, desqualificar, agredir (não necessariamente fisicamente), culpar. Aos poucos a autoestima vai se ruindo, e a vítima vai duvidando até da sua sanidade mental.
“Mas ele é tão maravilhoso, se ao menos pudesse controlar o temperamento…” (os momentos bons costumam ser realmente muito bons, mesmo que durem pouco), ou ainda pior: “ele é tão maravilhoso, se ao menos eu conseguir me comportar de maneira que não a não o deixar tão estressado”. O problema é que essa maneira não existe. Nesse jogo de tortura psicológica não tem como ganhar. Entenda, a culpa não é da vítima e sim do agressor.
Gostamos realmente de pensar que nunca passaríamos por isso. Mas a verdade é que é tão aos poucos que quando a pessoa vê já está lá: sofrendo, aceitando, perdoando, acreditando que vai mudar, se culpando, duvidando da própria sanidade, se envergonhando e etc. E o pior: na maioria das vezes não tendo nem clareza do que está acontecendo.
Também pensamos que os homens que fazem isso são monstros, pessoas odiosas, não é mesmo? Mas, se eu te disser que a grande parte das vezes, não são? Muitas vezes são nossos pais, irmãos, aquele amigo que todo mundo adora, o rapaz gentil engajado em várias ações sociais, resumindo: são “homens de bem”. E isso torna tudo mais difícil e confuso para a vítima.
Por isso, se você conhece alguém que está em um relacionamento abusivo, não condene: ajude!! Escute, oriente, acolha, indique um acompanhamento psicológico.
E se você se vê em um relacionamento assim: busque ajuda. Você pode ter vergonha de contar para amigos e parentes. Por isso, busque uma ajuda profissional. Isso não significa necessariamente terminar, mas apoio para que os abusos acabem. Para que você consiga se reconstruir dentro ou fora do relacionamento.
Cuide de você!! Fique bem!!